Por: Bruno Lobo Monteiro
Desde os primórdios do pensamento político moderno, as ideias de esquerda e direita têm travado um duelo que transcende a esfera do governo e penetra os recônditos mais profundos da sociedade. No Brasil, esse embate tem se manifestado de maneira singular, sobretudo na última metade do século XX, com a esquerda alcançando uma hegemonia cultural quase incontestável.
O avanço das pautas de esquerda no país não é um fenômeno isolado ou espontâneo. Trata-se de um projeto articulado, que se alicerça em instituições-chave como universidades, escolas, meios de comunicação e produção cultural. Nesses espaços, valores progressistas, muitas vezes disfarçados de “inevitáveis avanços históricos”, têm sido difundidos com uma obstinação admirável, ainda que frequentemente questionável sob o prisma da pluralidade de ideias.
Se é verdade que a hegemonia cultural é uma vitória da esquerda, não é menos verdadeiro que sua consolidação foi facilitada por uma direita frequentemente apática e desarticulada. Enquanto os intelectuais e militantes de esquerda investiam na formação de uma base ideológica robusta, a direita, por vezes, limitava-se à disputa eleitoral, subestimando a importância do embate cultural e acadêmico. Tal miopia estratégica não apenas permitiu que a esquerda ocupasse territórios simbólicos cruciais, mas também criou um abismo que agora exige um esforço hercúleo para ser transposto.
Contudo, não é tarde para que a direita reassuma seu papel no cenário cultural. A responsabilidade é dupla: recuperar os espaços perdidos e oferecer à sociedade um discurso coerente e enraizado em valores sólidos, como a liberdade, a responsabilidade individual, a família e a tradição. Mais do que isso, é preciso compreender que o combate à hegemonia cultural não pode ser conduzido com o mesmo dogmatismo que muitas vezes critica na esquerda. A diversidade de pensamentos, desde que alinhada a princípios basilares, é a chave para a construção de uma sociedade verdadeiramente plural.
Para tanto, a formação de novos intelectuais e lideranças é imperativa. A direita precisa investir em educação e cultura, criar instituições que promovam o pensamento crítico e valorizem o legado civilizacional do Ocidente. Assim como Gramsci vislumbrou uma “guerra de posição” para a ascensão da esquerda, cabe à direita delinear sua própria estratégia, adaptando-se às circunstâncias do século XXI.
O desafio é monumental, mas não intransponível. A história é rica em exemplos de movimentos que, mesmo contra todas as adversidades, conseguiram reverter cenários aparentemente irreversíveis. Cabe à direita brasileira decidir se deseja figurar como uma coadjuvante passiva ou como protagonista na construção de um futuro onde a liberdade de pensamento e a diversidade de ideias sejam mais do que slogans vazios: sejam realidades palpáveis.
O Tabuleiro Político, 02 de Janeiro de 2025