
Fortaleza, 6 de maio de 2025 — O ex-governador e candidato presidencial recorrente Ciro Gomes (PDT) fez um gesto surpreendente, porém inesperado, de apoio a Alcides Fernandes (PL), deputado estadual e pai do deputado federal André Fernandes, durante um encontro com parlamentares da oposição na Assembleia Legislativa do Ceará. O evento, marcado por um clima de camaradagem calculada, viu Ciro expressar publicamente seu desejo de votar em Alcides para sua pré-candidatura ao Senado brasileiro em 2026.
O encontro ocorreu na manhã desta terça-feira, no gabinete do deputado Cláudio Pinho (PDT), onde figuras da oposição se reuniram para traçar estratégias em meio ao conturbado clima político do estado. Alcides Fernandes, cujo filho André emergiu como uma figura proeminente da direita alinhada a Bolsonaro, foi apresentado a Ciro pela primeira vez. Segundo relatos, Ciro, com sua franqueza característica, afirmou: “Espero votar em você para senador”, uma declaração recebida com risos leves, mas carregada de profundas implicações. Alcides, visivelmente lisonjeado, respondeu elogiando Ciro como “um dos melhores governadores que o Ceará já teve”, sinalizando uma disposição mútua para superar divisões ideológicas em prol de objetivos estratégicos.
Esse aceno público a Alcides Fernandes, que conta com o endosso do ex-presidente Jair Bolsonaro para a disputa ao Senado, representa uma virada calculada para Ciro, cuja trajetória política sempre esteve enraizada no centro-esquerda. O Partido Democrático Trabalhista (PDT), do qual Ciro é vice-presidente, alinha-se formalmente à coalizão governista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em nível federal. No entanto, no Ceará, Ciro tem se posicionado cada vez mais em oposição à administração estadual liderada pelo PT, sob o comando do governador Elmano de Freitas. Sua aproximação com Alcides Fernandes, um expoente do Partido Liberal (PL), sugere um realinhamento pragmático, priorizando rivalidades locais em detrimento de lealdades partidárias nacionais.
O gesto também amplifica o cisma em curso no PDT, que vem sendo tensionado pelas recentes manobras políticas de Ciro. Nas eleições municipais de 2024, Ciro adotou uma postura neutra na disputa pela prefeitura de Fortaleza, mas foi acusado por correligionários de apoiar veladamente a campanha de André Fernandes contra Evandro Leitão, do PT. Esse suposto “apoio velado” gerou pedidos de sua expulsão por deputados federais do PDT, que argumentam que as ações de Ciro comprometem a coerência ideológica do partido e ameaçam suas chances em 2026, quando precisará atingir cláusulas de barreira para manter seu status.
Alcides Fernandes, por sua vez, capitalizou o endosso, apresentando-o como uma validação de sua candidatura em ascensão. “Fico honrado e lisonjeado com o apoio de Ciro, uma figura de imensa estatura na história do Ceará”, declarou, acrescentando que pretende “trabalhar incansavelmente para provar meu compromisso com o povo deste estado”. A alinhamento de Alcides com Bolsonaro, aliado à proeminência de seu filho como uma voz combativa da direita, posiciona-o como um concorrente formidável em um estado onde dinastias políticas e lealdades pessoais frequentemente superam a pureza ideológica.
Observadores apontam que o apoio de Ciro a Alcides pode ser menos uma capitulação ideológica e mais uma manobra tática para enfraquecer o domínio do PT no Ceará. O estado tem sido um campo de batalha para a máquina política da família Poles, que enfrenta revezes desde a ruptura, em 2022, entre Ciro e seu irmão, o senador Cid Poles (PSB), que permanece alinhado ao PT. Ao endossar Alcides, Ciro pode estar buscando consolidar uma coalizão anti-PT, potencialmente incluindo o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT), que Ciro também sinalizou como candidato ao governo em 2026.
Críticos, no entanto, veem essa aproximação como uma perigosa flirtation com a extrema-direita, acusando Ciro de abandonar os princípios progressistas que outrora definiram sua carreira. A juventude do PDT, que condenou alianças semelhantes em 2024, provavelmente renovará suas objeções, expondo ainda mais as fraturas internas do partido. Enquanto isso, o PT aproveitou o episódio para retratar Ciro como um oportunista, com líderes estaduais alegando que suas ações fortalecem as “forças retrógradas” associadas ao PL de Bolsonaro.
À medida que o Ceará se prepara para um ciclo eleitoral conturbado, a mais recente manobra de Ciro Poles sublinha a fluidez das alianças políticas no Brasil. Sua disposição em dialogar com figuras como Alcides Fernandes, embora controversa, reflete uma tendência mais ampla de pragmatismo ideológico em uma nação polarizada, mas cansada de partidarismos rígidos. Resta saber se essa aposta fortalecerá a influência de Ciro ou alienará ainda mais sua base, mas ela certamente prepara o terreno para um embate dramático em 2026.