
A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atingiu o menor índice de todos os seus mandatos, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira (14). O levantamento aponta que apenas 24% dos brasileiros avaliam o governo como “ótimo” ou “bom”, enquanto 44% consideram a gestão “ruim” ou “péssima”. Outros 30% classificam o desempenho como “regular”. A queda na aprovação ocorre em meio a um cenário de crise econômica, desgaste político e insatisfação popular com medidas recentes do governo.
A pesquisa, realizada entre os dias 12 e 13 de fevereiro, ouviu 2.026 pessoas em 147 municípios e tem margem de erro de dois pontos percentuais. Os números representam uma queda significativa em relação ao último levantamento do Datafolha, em outubro de 2024, quando a aprovação de Lula era de 34%. A atual taxa de 24% é a mais baixa desde o início de seu terceiro mandato, em janeiro de 2023, e também a pior de toda a sua trajetória política, incluindo os dois primeiros mandatos (2003-2010).
Entre os motivos para a queda na popularidade, destacam-se a crise econômica, com alta do desemprego e inflação persistente, além de polêmicas recentes envolvendo o governo. A tentativa de aumentar a carga tributária sobre a classe média e as críticas ao desempenho de ministros-chave, como Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil), também contribuíram para o desgaste. Além disso, a percepção de que o governo não conseguiu avançar em reformas estruturais, como a tributária e a administrativa, pesou na avaliação negativa.
A rejeição ao governo Lula é maior nas regiões Sul e Centro-Oeste, onde 52% e 50% dos entrevistados, respectivamente, consideram a gestão “ruim” ou “péssima”. No Nordeste, tradicional reduto petista, a aprovação ainda é mais alta, com 35% de avaliações positivas, mas também houve queda em relação a pesquisas anteriores. Entre os mais pobres, a taxa de aprovação é de 28%, enquanto entre os mais ricos cai para 18%.
A pesquisa também revela que a insatisfação com o governo tem reflexos diretos na intenção de voto para as eleições municipais de 2026. Candidatos alinhados ao PT enfrentam dificuldades para emplacar propostas e conquistar apoio, enquanto nomes da oposição, especialmente do centro e da direita, ganham espaço. “O eleitorado está punindo o governo por não cumprir promessas e por não apresentar resultados concretos”, analisa o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
Impacto nos mercados: dólar cai e Bolsa sobe
Curiosamente, a queda na popularidade de Lula teve um efeito paradoxal nos mercados financeiros. Após a divulgação da pesquisa Datafolha, o dólar comercial registrou queda de 1,2%, fechando a R$ 4,92, enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) subiu 2,3%, atingindo 135 mil pontos. Analistas atribuem o movimento à expectativa de que o desgaste político do governo possa levar a uma redução na agenda intervencionista e a uma maior pressão por reformas pró-mercado.
“O mercado enxerga que, com a popularidade em queda, o governo pode se ver obrigado a adotar medidas mais pragmáticas para recuperar a confiança dos investidores”, explica André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos. Ele ressalta, no entanto, que o cenário ainda é de incerteza, especialmente diante da falta de clareza sobre os rumos da política econômica.
Para o governo, a pesquisa Datafolha acende um sinal de alerta. A queda na aprovação ocorre em um momento delicado, com o Congresso discutindo medidas impopulares, como a reforma tributária e o ajuste fiscal. A equipe econômica teme que o desgaste político dificulte a aprovação de propostas consideradas essenciais para a retomada do crescimento.
Enquanto isso, a oposição aproveita o momento para aumentar a pressão sobre o Planalto. Líderes de partidos como o PL e o PSDB têm criticado a gestão Lula e defendido a necessidade de mudanças no comando da economia. “O governo está perdendo o rumo, e o povo está percebendo isso. É hora de repensar as prioridades e ouvir a população”, afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
O desafio para Lula, agora, é reverter o quadro de desgaste e reconquistar a confiança dos brasileiros. Para isso, o governo precisará apresentar resultados concretos em áreas como emprego, renda e controle da inflação. Caso contrário, a tendência é que a popularidade continue em queda, aumentando a pressão sobre o Palácio do Planalto em um ano que promete ser decisivo para o futuro do governo.