O Tabuleiro Politico

Por: Bruno Lobo Monteiro

   Hegemonia cultural, conceito que devemos ao marxista italiano Antonio Gramsci, não é apenas uma expressão acadêmica para enfeitar teses de doutorado. É uma estratégia de poder, um mecanismo pelo qual uma visão de mundo – geralmente a de uma elite ideológica – se impõe como “verdade absoluta” sobre uma sociedade inteira, sem que esta perceba que está sendo dominada. Não se trata de coerção física, mas de uma conquista silenciosa das mentes, das almas e das instituições. Gramsci, com sua astúcia revolucionária, vê que o controle das armas e das leis não é suficiente: é preciso dominar a cultura, os valores, as ideias que moldam o imaginário coletivo. Quando isso acontece, o povo passa a venerar seus próprios algozes, achando que é livre.

   A hegemonia cultural, portanto, é o triunfo da ideologia disfarçada de senso comum. É o momento em que os dominados aplaudem os dominadores, porque foram complementados de que a corrente em seus pés é um adorno. Filosofia? Sim, mas também sociologia prática: uma engenharia social que transforma escolas, roupas, jornais e até a arte em instrumentos de propaganda sutil.

   No Brasil, essa máquina gramatical foi posta em movimento com uma precisão que faria inveja aos mais ardilosos estrategistas militares. Desde meados do século XX, mas com força redobrada a partir das décadas de 1960 e 1970, as instituições brasileiras – universidades, imprensa, judiciário, e até mesmo setores da Igreja – foram tomadas por uma visão de mundo que eu não hesito em chamar de esquerdista, progressista e, em última análise, destrutiva daquilo que há de mais essencial em nossa identidade nacional.

   Começamos pelas universidades, esses templos que outrora foram de conhecimento e hoje são de militância. Não é segredo que, desde a intervenção militar de 1964, os intelectuais de esquerda, muitos deles exilados ou silenciados, retornaram com um plano claro: ocupar os departamentos de humanidades. Sob o pretexto de “resistência democrática”, implantaram uma narrativa que misturava o marxismo vulgar com um ressentimento histórico contra a tradição brasileira. Hoje, disciplinas como história, sociologia e filosofia não ensinam mais o que aconteceu ou o que é, mas o que deveria ter sido o segundo dos cânones da revolução permanente. O aluno sai de lá não como pensador, mas como papagaio de slogans.

    A imprensa, que deveria ser o cão de guarda da verdade, tornou-se o cão de busca da hegemonia. Os grandes jornais e emissoras, com raras abordagens, adotaram um discurso monocórdio que glorifica o “progresso” – entenda-se: aborto, relativismo moral, desconstrução da família – enquanto demoniza qualquer resquício de conservadorismo como “atraso”. O jornalismo brasileiro não informa; ele catequiza. E faz isso com a arrogância de quem se acha dono da razão, esquecendo que a razão, como já disse Chesterton, é a primeira vítima da ideologia.

    Nem o judiciário escapou. Magistrados, muitos formados nas mesmas universidades contaminadas, passaram a interpretar a Constituição não como um documento de princípios, mas como um trampolim para impor agendas ideológicas. Decisões que favorecem minorias barulhentas em detrimento da maioria silenciosa, ou que reinterpretam leis para atender a modismos internacionais, são sintomas claros de uma justiça que trocou a balança pela bandeira vermelha.

    Por fim, a cultura popular – novelas, filmes, música – foi transformada em arma de guerra. A Rede Globo, por exemplo, há décadas injeta nas casas brasileiras um veneno doce: a exaltação do hedonismo, o ataque à fé cristã, a ridicularização dos valores tradicionais. O que parece entretenimento é, na verdade, um cavalo de Troia que corroe a moral de um povo outrora temente a Deus e orgulhoso de sua história.

   Do ponto de vista filosófico, o que está em jogo é uma inversão satânica dos valores. Nietzsche já alertava sobre o “niilismo” que viria com a morte de Deus (Esse não morre, pois é Eterno, Imortal, Invisível mas Real); o que vemos no Brasil é a morte da tradição vencida por uma utopia secular que promete liberdade, mas entrega escravidão. A esquerda cultural, com sua obsessão por “desconstruir” tudo – gênero, família, nação –, não oferece nada em troca além do vazio. É o que Olavo de Carvalho chamava de “paralisia cognitiva”: uma sociedade que desaprende a pensar por si mesma e aceita passivamente os dogmas do politicamente correto.

   Combater a hegemonia cultural não é tarefa para os fracos. Exige, antes de tudo, coragem intelectual para chamar as coisas pelo nome: sim, há uma guerra cultural em curso, e o Brasil é seu campo de batalha. Exige também a retomada das instituições por aqueles que ainda acreditam na verdade, na beleza e na ordem – valores que a modernidade desprezam, mas que são o alicerce de qualquer civilização digna desse nome.

   O povo brasileiro, com sua alma generosa e sua história rica, não merece ser refém de uma elite que o despreza. Uma hegemonia cultural pode ter se infiltrado, mas não é invencível. Como disse o velho profeta: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Que essa seja nossa bússola.

Fortaleza, 09 de Abril de 2025

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