
Nesta quinta-feira, 10 de abril de 2025, uma decisão judicial em Minas Gerais trouxe à tona um escândalo que abalou a imagem do deputado federal André Janones (Avante-MG), conhecido por sua retórica inflamada nas redes sociais e suposto defensor das causas populares. A prefeita de Ituiutaba, Leandra Guedes, ex-mulher do parlamentar, conseguiu uma medida protetiva contra ele com base na Lei Maria da Penha, alegando violência psicológica e social. O caso, que envolve acusações de chantagem com fotos íntimas, não apenas mancha a confiança de Janones, mas também escancara a hipocrisia de figuras que se dizem progressistas enquanto agem contra os princípios que dizem defender.
Leandra, que manteve um relacionamento com Janones entre 2014 e 2018, acionou a Justiça em 24 de dezembro de 2024, após uma série de desentendimentos que culminaram em uma ameaça grave. Segundo a denúncia, o deputado teria enviado uma foto íntima da prefeita ao secretário municipal de Saúde, Conrado Henrique, como forma de pressioná-la para demitir a procuradora Anna Neves, uma aliada de Leandra. O ato, registrado no cartório pela vítima, foi interpretado pelo juiz como tentativa de causar sofrimento psicológico e dano moral, enquadrando-se na Lei Maria da Penha, que protege mulheres contra violência doméstica, seja física, psicológica ou patrimonial. A medida protetiva, concedida no dia seguinte ao pedido, proíbe Janones de se aproximar de Leandra, de seus familiares ou de divulgar qualquer material que a comprometa, sob pena de prisão em flagrante.
O caso ganha contornos ainda mais graves quando se considera o contexto político. Leandra, também filiada ao Avante e ex-chefe de gabinete de Janones na Câmara, rompeu com o ex-marido após anos de atritos, muitos deles relacionados à tentativa do deputado de interferir em sua gestão em Ituiutaba, cidade de 102 mil habitantes onde ambos construíram suas carreiras. Uma gota d’água veio com a exigência de Janones para que Leandra demitisse Neves, sob ameaça de expor imagens privadas guardadas do relacionamento. A prefeita, que resistiu à pressão, teve sua coragem recompensada pela Justiça, mas o episódio levanta questionamentos sobre o caráter de uma parlamentar que, publicamente, se posa como defensora dos direitos das mulheres.
A oposição não perdeu tempo em explorar o caso. Parlamentares do PL e do União Brasil, como Ricardo Salles e Kim Kataguiri, obtiveram as redes sociais para acusar Janones de incoerência. “Ele vive falando de ética e moral, mas chantageia a ex-mulher com fotos íntimas. É esse o progressismo que o PT apoia?”, questionou Salles. O silêncio do governo Lula e de aliados petistas, que costumam se posicionar em casos de violência de gênero, é ensurdecedor e sugere que Janones, apesar de não ser do PT, é um aliado incômodo que o Planalto prefere ignorar. A falta de solidariedade a Leandra por parte da esquerda reforça a percepção de que, para alguns, a defesa das mulheres é apenas uma bandeira de conveniência.
O caso também joga luz sobre a importância da Lei Maria da Penha, que, desde 2006, tem sido um instrumento vital para proteger mulheres de abusos no âmbito doméstico. A rapidez com que a Justiça mineira agiu – concedendo a medida em menos de 24 horas – demonstra a força da legislação, mas também serve de lembrete de que ninguém está acima dela, nem as mesmas figuras públicas que vivem de likes e discursos ensaiados. Para Leandra, a medida protetiva é uma vitória pessoal, mas também um recado à sociedade: a violência contra a mulher, seja física ou psicológica, não pode ser tolerada, especialmente quando vem de quem deveria dar o exemplo.
Enquanto Janones se cala, limitando-se a uma nota genérica de sua assessoria negando as acusações, o Brasil assiste a mais um capítulo de um político que cai na própria armadilha. O deputado, que já fez denúncias de “rachadinha” e se esquivou de punições, agora vê sua réplica ruir diante de uma acusação que vai além da política: é uma questão de caráter. Para Leandra Guedes, a luta não é só por justiça, mas por dignidade – algo que Janones, com suas ações, parece desconhecer.