
A Polícia Federal revelou indícios contundentes de que um gestor operacional de contratos, apelidado de “chefe”, atuava como operador direto de um esquema de desvio de recursos públicos ligado ao deputado federal Júnior Mano (PSB‑CE). O caso faz parte da Operação Underhand, que investiga supostas fraudes envolvendo emendas parlamentares e licitações em municípios cearenses.
O papel do “chefe” e as mensagens reveladoras
Relatórios da PF trazem diálogos trocados entre o “chefe” e assessores ligados ao deputado, nos quais o gestor seria responsável por orientar transferências de recursos em troca de comissões. Um trecho do relatório destaca: “Manda dinheiro, chefe”, expressão que evidenciaria o vínculo direto e habitual entre os agentes do esquema criminoso.
Estrutura do esquema segundo a PF
A investigação aponta Júnior Mano como figura central na organização criminosa, articulando o envio de emendas parlamentares para prefeituras do Ceará e coordenando a alocação desses recursos a empresas ligadas ao grupo do prefeito afastado Carlos Alberto Queiroz, o “Bebeto do Choró”. A PF classifica Júnior Mano como um “ator estruturante” nos desvios e manipulação de contratos públicos.
Segundo o relatório, em setembro de 2024 o braço direito do deputado, Adriano Almeida Bezerra, respondeu afirmativamente sobre a destinação de uma emenda de R$ 1,5 milhão mediante cobrança de 12% de retorno ilícito, respondendo apenas: “Pronto, arrocha”. Essa linguagem, segundo os investigadores, sinaliza a normalização da prática criminal dentro do grupo.
A Operação Underhand
Deflagrada em julho de 2025, a Operação Underhand cumpriu 15 mandados de busca e apreensão em Brasília e cinco municípios do Ceará — Fortaleza, Nova Russas, Canindé, Eusébio e Baixio. A operação resultou no bloqueio de R$ 54,6 milhões de ativos de investigados e na quebra de sigilo de celulares. Os alvos incluem assessores, prefeitos, empresários e Júnior Mano, por conta de seu foro privilegiado no STF.
Defesa nega irregularidades
O gabinete de Júnior Mano negou qualquer irregularidade e afirmou que o parlamentar “não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos”. A nota também enaltece a confiança nas instituições e diz que a investigação demonstrará sua conduta lícita.
Alcance e implicações políticas
A apuração da PF indica atuação em cerca de 51 municípios do Ceará, com operações estruturadas por meio de empresas ligadas ao grupo de Júnior Mano e prefaturas aliadas. O Ministério Público aponta envolvimento em crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro, compra de votos e fraudes em licitações.
Especialistas consultados acreditam que a exposição do “chefe”, identificado como gestor de contratos, eleva a gravidade do caso. Se confirmadas as suspeitas, a investigação pode levar à responsabilização criminal do deputado e de seus auxiliares mais próximos.