O Tabuleiro Politico

Presidente reforça agenda de desdolarização em cúpula esvaziada no Rio de Janeiro.

Na abertura da 10ª reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como banco do BRICS, realizada no Rio de Janeiro neste sábado (5 de julho de 2025), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas às políticas de austeridade fiscal impostas por instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), e defendeu a criação de uma nova moeda para transações comerciais entre os países do bloco. A proposta, que visa reduzir a dependência do dólar, enfrenta resistência de membros como Índia e Emirados Árabes Unidos e críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas ganhou apoio de figuras como a presidente do NDB, Dilma Rousseff, e da Rússia.

Crítica à Austeridade e o Papel do NDB

Lula classificou as políticas de austeridade como um fracasso global, afirmando que “o modelo da austeridade não deu certo em nenhum país do mundo” e que “toda vez que se fala em austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico fica mais rico”. Ele criticou as condicionalidades impostas por instituições como o FMI, que, segundo ele, aprofundam a desigualdade e impedem o desenvolvimento de países pobres. “Não é possível, no século 21, tratar o financiamento da mesma forma que no século 20”, declarou, destacando que o NDB deve liderar a criação de novos mecanismos de crédito sem exigências regressivas. O presidente apontou a dívida de US$ 900 bilhões de países africanos, cujo pagamento de juros supera os investimentos em áreas como saúde e educação, como exemplo da necessidade de uma nova arquitetura financeira global.

Dirigindo-se à presidente do NDB, Dilma Rousseff, Lula enfatizou o papel do banco em promover uma transição justa e soberana, destacando que 31% dos projetos do NDB já são financiados em moedas locais dos países membros, como o real no Brasil. Ele saudou a recente adesão da Argélia como membro pleno e o interesse de países como Colômbia, Uzbequistão, Indonésia e Turquia, reforçando a expansão do bloco. “Vocês podem e devem mostrar ao mundo que é possível criar um novo modelo de financiamento sem condicionalidades”, afirmou, conclamando o NDB a articular com outros bancos multilaterais para viabilizar essa mudança.

A Proposta de uma Nova Moeda e a Desdolarização

A defesa de uma nova moeda de comércio internacional, um dos pontos centrais do discurso de Lula, reacende a agenda de desdolarização, que busca reduzir a dependência do dólar nas transações entre os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, além de novos membros como Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos). “A discussão sobre a necessidade de uma nova moeda de comércio é extremamente importante. É complicado, eu sei. Tem problemas políticos, eu sei. Mas se a gente não encontrar uma nova fórmula, vamos terminar o século 21 igual ao século 20, e isso não será benéfico para a humanidade”, declarou Lula.

A proposta, apoiada por Rússia, China e Dilma Rousseff, enfrenta resistência de membros como a Índia, que teme impactos nas relações com os EUA, e já motivou ameaças de Trump, que exigiu em 2024 que o BRICS não criasse uma nova moeda sob pena de tarifas de 100% sobre suas exportações. Apesar disso, Lula destacou que 30% das transações do bloco já ocorrem em moedas locais, como o real e o yuan, e que o NDB pode atuar como uma “caixa de conversão” para facilitar swaps cambiais, reduzindo custos e riscos cambiais. O presidente esclareceu que a nova moeda seria apenas para comércio internacional, sem substituir as moedas nacionais, como o real no Brasil.

Contexto Político e Críticas à Liderança Global

O discurso de Lula também abordou a crise de liderança global, criticando a “insignificância” da Organização das Nações Unidas (ONU) diante de conflitos como o de Gaza, que ele classificou como um “genocídio” perpetrado por Israel. “Uma ONU capaz de criar o Estado de Israel não é capaz de criar o Estado Palestino, não é capaz de fazer um acordo de paz para impedir o genocídio de mulheres e crianças em Gaza”, afirmou, reforçando sua visão de que a falta de multilateralismo enfraquece a governança global.

O evento, que precede a Cúpula do BRICS marcada para 6 e 7 de julho no Rio, ocorre em um momento de fragilidade para a liderança brasileira. A ausência de Lula presencialmente, devido a problemas de saúde, e de líderes como Xi Jinping e Vladimir Putin, limita o impacto diplomático da cúpula. Além disso, a agenda de desdolarização enfrenta resistências internas no bloco, com países como Índia e Emirados Árabes Unidos priorizando suas relações com os EUA. A presidente do NDB, Dilma Rousseff, ecoou as críticas de Lula ao protecionismo, apontando que “tarifas, sanções e restrições financeiras estão sendo usadas como ferramentas de subordinação política”, em uma crítica velada às políticas de Trump.

Implicações Domésticas e Desafios do Governo Petista

O discurso de Lula reflete não apenas sua visão para o BRICS, mas também um recado ao cenário doméstico, onde o governo petista enfrenta embates com o Congresso, que derrubou um decreto de aumento do IOF em 2025, forçando Lula a retomar a proposta de taxação de grandes fortunas. A crítica à austeridade ecoa as disputas internas, com o governo sendo acusado de negligenciar o controle de gastos públicos enquanto defende políticas expansionistas. “Focado em aumentar impostos e não em cortar gastos, Lula critica o modelo de austeridade fiscal”, apontou o Diário do Poder, destacando a contradição entre o discurso internacional e a gestão fiscal doméstica.

A insistência na desdolarização, embora ambiciosa, é vista com ceticismo por analistas, que apontam a falta de consenso no BRICS e os riscos de retaliação econômica dos EUA. Posts no X, como o de @RT_com, reforçam a narrativa de Lula, mas também destacam a resistência global: “Lula quer que o BRICS abandone o dólar, mas isso não será bom para a humanidade se não houver uma fórmula viável”. No Brasil, a agenda econômica do governo enfrenta desafios adicionais com a queda de 0,5% na produção industrial em maio, o segundo mês consecutivo de retração, o que pressiona Lula a equilibrar suas ambições globais com as demandas internas por crescimento econômico.

A reunião do NDB, que aprovou mais de US$ 40 bilhões para 120 projetos em energia limpa, transporte e saneamento, reforça o potencial do BRICS para promover o desenvolvimento, mas a falta de unidade no bloco e as tensões geopolíticas globais limitam o alcance das propostas de Lula. Enquanto o presidente busca posicionar o Brasil como líder do Sul Global, a implementação de uma nova moeda e a superação das barreiras da austeridade exigirão mais do que discursos, demandando coordenação política e econômica em um cenário global cada vez mais fragmentado.

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