
O ex-ministro dos Transportes da Rússia, Roman Starovoit, de 53 anos, foi encontrado morto com um ferimento à bala dentro de seu veículo na região de Odintsovo, subúrbio de elite de Moscou, na segunda-feira (7 de julho de 2025), poucas horas após ser demitido pelo presidente Vladimir Putin. A principal hipótese das autoridades russas, conforme comunicado do Comitê Investigativo da Rússia, é de suicídio, embora uma investigação criminal tenha sido iniciada para esclarecer as circunstâncias da morte. A demissão de Starovoit, que ocupava o cargo desde maio de 2024, ocorreu em meio a especulações de envolvimento em um escândalo de corrupção relacionado à sua gestão como governador da região de Kursk, além de críticas pelo caos nos transportes causado por ataques de drones ucranianos.
Contexto da Demissão e Suspeitas de Corrupção
Starovoit foi destituído do cargo de ministro dos Transportes por um decreto presidencial publicado na manhã de segunda-feira, sem que o Kremlin especificasse os motivos. A decisão veio após um fim de semana de caos no setor de aviação russo, com 485 voos cancelados e 1.900 atrasados em aeroportos como Sheremetyevo, em Moscou, e Pulkovo, em São Petersburgo, devido a ataques de drones ucranianos que forçaram a interrupção de sinais móveis e o fechamento de espaços aéreos.
Antes de assumir o ministério, Starovoit foi governador de Kursk, região fronteiriça com a Ucrânia, até maio de 2024. Sua gestão é alvo de investigações por suposto desvio de fundos destinados à construção de fortificações na fronteira, que se mostraram ineficazes durante uma incursão ucraniana em agosto de 2024, a maior em território russo desde a Segunda Guerra Mundial. O sucessor de Starovoit em Kursk, Alexei Smirnov, foi preso em abril de 2025 por acusações de desvio de recursos, e relatórios da mídia russa, incluindo o jornal Kommersant e canais do Telegram, sugerem que Starovoit também poderia estar implicado no caso.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou que a demissão de Starovoit estivesse relacionada a uma “perda de confiança” por parte de Putin, afirmando que tal motivo seria explicitado no decreto, o que não ocorreu. Contudo, analistas políticos, como Evgeny Minchenko, consideraram a destituição “previsível”, apontando que “os acontecimentos em Kursk o alcançaram”.
Detalhes da Morte e Investigação
O corpo de Starovoit foi encontrado em seu carro, identificado por algumas fontes como um Tesla, estacionado em Myakinino, no distrito de Odintsovo, por volta das 15h. Uma arma de fogo, supostamente uma pistola concedida pelo Ministério do Interior em 2023, foi encontrada próxima ao corpo, reforçando a hipótese de suicídio. A identificação do corpo foi feita por sua namorada de 25 anos, Polina Korneev. O Comitê Investigativo, liderado pela porta-voz Svetlana Petrenko, está examinando as circunstâncias, mas mantém o suicídio como a principal linha de investigação.
A morte de Starovoit ocorre em um contexto de pressão intensa sobre autoridades russas, em meio a desafios impostos pela guerra na Ucrânia, que entra em seu quarto ano. Sanções ocidentais têm causado escassez de peças para a aviação, enquanto a Russian Railways enfrenta custos elevados devido às altas taxas de juros para conter a inflação agravada pelo conflito. A incapacidade de Starovoit de implementar um plano de crise eficaz para lidar com essas questões, incluindo as interrupções causadas por drones ucranianos, pode ter contribuído para sua demissão.
Substituição e Repercussão
Horas após a demissão, Putin nomeou Andrei Nikitin, ex-governador da região de Novgorod e ex-vice-ministro dos Transportes, como ministro interino. Nikitin, que se reuniu com Putin no Kremlin na segunda-feira, discutiu planos para digitalizar o setor de transportes e reduzir gargalos logísticos. Peskov elogiou as “qualidades profissionais” de Nikitin, sugerindo confiança na sua capacidade de enfrentar os desafios do setor.
A morte de Starovoit se soma a uma série de incidentes envolvendo figuras proeminentes na Rússia desde o início do conflito na Ucrânia, como a morte de Alexei Navalny em fevereiro de 2024 e de Yevgeny Prigozhin em agosto de 2023, ambos em circunstâncias controversas. Embora não haja evidências de crime no caso de Starovoit, a coincidência com sua demissão alimentou especulações nas redes sociais, incluindo posts no X, onde usuários como @RT_com e @cartacapital relataram o caso como “urgente”. A mídia internacional, como Reuters e CNN, destacou a possibilidade de conexão com o escândalo de corrupção em Kursk, mas sem confirmação oficial.
Implicações e Contexto Político
O caso reflete a pressão sobre o governo russo em meio a reveses militares e sanções econômicas. A incursão ucraniana em Kursk expôs vulnerabilidades nas defesas russas, e as investigações de corrupção, que já levaram à prisão de mais de 20 indivíduos ligados ao caso, intensificam o escrutínio sobre ex-governadores e autoridades. A morte de Starovoit, embora tratada como suicídio, levanta questionamentos sobre a transparência do Kremlin, especialmente em um momento em que Putin busca consolidar o controle interno enquanto enfrenta críticas internacionais, como as de Donald Trump, que recentemente defendeu Jair Bolsonaro e criticou a influência global do BRICS.
A substituição rápida por Nikitin sugere uma tentativa de minimizar o impacto político do incidente, mas a crise no setor de transportes, agravada por ataques ucranianos e sanções, permanece um desafio. Enquanto a Rússia intensifica seus próprios ataques, com mais de 100 drones lançados contra a Ucrânia na mesma noite, o caso de Starovoit expõe as tensões internas e a fragilidade de um sistema sob pressão constante. A investigação em curso será crucial para esclarecer se a morte foi, de fato, um suicídio ou se outros fatores estão em jogo, em um contexto onde a confiança pública no governo russo enfrenta crescente ceticismo.