O Tabuleiro Politico

   A história, essa senhora austera e por vezes irônica, repete-se não como farsa, mas como tragédia. E no Brasil do século XXI, assistimos a um capítulo que, sob o manto diáfano da democracia, esconde as garras de um autoritarismo que não ousa dizer seu nome. O exílio político, outrora reservado aos tempos de ditaduras declaradas, volta a ser uma realidade, não por decreto, mas por um conjunto de ações que, sutis ou descaradas, buscam silenciar vozes dissonantes.

Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, decidiu não retornar ao Brasil, fixando residência nos Estados Unidos. Seu motivo? O temor da perseguição judicial, personificada na figura do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Não se trata de um mero capricho ou de uma fuga cômoda, mas de uma decisão que reflete o clima de intimidação que paira sobre aqueles que ousam desafiar o establishment político e jurídico. O exílio de Eduardo Bolsonaro é emblemático, pois simboliza a erosão das garantias democráticas em um país onde a justiça, em tese, deveria ser cega, mas parece enxergar com clareza apenas um lado do espectro político.

A base do governo, aliada a setores do Judiciário, empenha-se com afinco em cassar mandatos, criminalizar opiniões e perseguir opositores. Não são mais necessários os porões da ditadura militar, onde a tortura e o desaparecimento eram métodos de controle. Hoje, basta uma canetada, uma interpretação extensiva da lei, ou um inquérito sem provas concretas para que se instaure o clima de medo e silêncio. A democracia, assim, torna-se uma fachada, uma casca vazia de seu conteúdo essencial: a liberdade.

 O caso de Eduardo Bolsonaro não é isolado. Outras figuras públicas, alinhadas ao pensamento conservador, têm sido alvo de investigações, processos e condenações que beiram o espetáculo midiático. A estratégia é clara: deslegitimar, criminalizar e, por fim, eliminar qualquer resistência ao projeto de poder que se consolida. O exílio, portanto, não é apenas geográfico, mas também simbólico. É a exclusão do debate, a marginalização do pensamento divergente, a negação do pluralismo que deveria ser a alma de qualquer regime democrático.

 A hipocrisia é uma das marcas da sociedade brasileira. E não há hipocrisia maior do que a de uma democracia que se vende como liberdade, mas age como tirania. O exílio político no século XXI não é fruto de um golpe militar, mas de uma lenta e gradual transformação das instituições em instrumentos de perseguição. A separação dos poderes, tão cara ao pensamento iluminista, torna-se uma quimera, e o Judiciário, em vez de guardião da Constituição, transforma-se em ator político.

O Brasil é um país onde o futuro sempre parece promissor, mas o presente é invariavelmente desalentador. O exílio de Eduardo Bolsonaro e a perseguição a seus aliados são sintomas de uma doença mais profunda: a incapacidade de conviver com o diferente, o medo do debate, a intolerância disfarçada de virtude.

 Enquanto isso, a história segue seu curso, e os exilados do século XXI tornam-se personagens de um drama que esperamos que não se repita como tragédia. Mas, para que isso não aconteça, é preciso resgatar os valores democráticos, garantir a liberdade de expressão e, acima de tudo, lembrar que uma democracia sem oposição é apenas uma ditadura bem maquiada.

                                      Fortaleza, 18 de Março de 2025

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