Indicadores econômicos divulgados mostram queda na produção industrial em maio, sinalizando desafios para o setor produtivo e a necessidade de políticas para estimular a retomada do crescimento econômico

A produção industrial brasileira registrou uma queda de 0,5% em maio de 2025 na comparação com abril, marcando o segundo mês consecutivo de retração, após um recuo de 0,2% em abril, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (2). Apesar da desaceleração, o setor industrial mantém um crescimento acumulado de 2,8% nos últimos 12 meses e de 3,3% na comparação com maio de 2024, impulsionado por segmentos como veículos automotores e máquinas. No entanto, os resultados recentes apontam para uma perda de fôlego, alimentada por juros altos, desvalorização do real e inflação, o que reacende preocupações sobre a sustentabilidade da recuperação econômica sob a gestão do governo Lula.
Desaceleração e Fatores Macroeconômicos
A queda de maio, que veio em linha com as expectativas do mercado, foi influenciada principalmente por setores como veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,9%), produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,8%) e produtos alimentícios (-0,8%). Das quatro grandes categorias econômicas, três apresentaram resultados negativos: bens de consumo duráveis (-2,9%), bens de capital (-2,1%) e bens de consumo semi e não duráveis (-1,0%). O único setor com crescimento foi o de bens intermediários, que avançou 0,1%, sustentado por indústrias extrativas (0,8%) e produtos farmacêuticos (3,0%).
Segundo André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), a retração reflete o impacto de condições macroeconômicas adversas, como o aumento da taxa Selic, que encarece o crédito, e a depreciação cambial, que eleva os custos de produção. “A trajetória de juros altos desde setembro de 2024 e a inflação, especialmente de alimentos, reduzem a renda disponível das famílias e a confiança de empresários, impactando setores dependentes de crédito, como o automotivo”, explicou Macedo. A alta de 0,4% em abril, revisada para baixo, e a queda de maio indicam uma devolução do crescimento acumulado de 1,5% nos três primeiros meses de 2025, reduzindo o ganho para 0,7%.
Contexto Anual e Regional
Apesar das quedas recentes, a indústria brasileira acumula um crescimento robusto de 3,3% na comparação com maio de 2024, com destaque para veículos automotores (+12,2%), máquinas e equipamentos (+12,6%) e indústrias extrativas (+8,7%). No entanto, o desempenho é desigual, com 13 das 25 atividades pesquisadas registrando retração em maio. A produção industrial está 2,1% acima do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020), mas ainda 15% abaixo do pico histórico de maio de 2011, evidenciando a dificuldade de recuperação plena do setor.
Regionalmente, a indústria enfrenta desafios adicionais. Em 2024, estados como Amazonas (-8,8%), Bahia (-6,0%) e Pará (-4,4%) registraram quedas significativas, enquanto São Paulo, o maior parque industrial do país, teve uma variação negativa de 0,5%. O Ceará foi o único estado com crescimento em julho de 2023 (1,2%), impulsionado por setores como metalurgia e calçados. Esses dados regionais, embora referentes a 2023, sugerem que a desaceleração atual pode ter impactos ainda mais pronunciados em 2025, especialmente em regiões dependentes de exportações.
Críticas à Gestão Econômica e Perspectivas
A desaceleração industrial intensifica as críticas à política econômica do governo Lula, que enfrenta desafios para equilibrar o estímulo ao crescimento e o controle da inflação. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) destacou que os juros elevados, considerados os mais altos do mundo em termos reais, e a taxa de câmbio depreciada reduzem a confiança dos empresários, limitando investimentos. A entidade defende uma reforma fiscal estrutural para reduzir a rigidez orçamentária e viabilizar a queda sustentável da Selic, essencial para a retomada industrial.
Posts no X reforçam o sentimento de preocupação com a fraqueza do setor. Usuários como @GRechMacro e @SensoCrtico1 apontaram que o PMI Industrial de junho (48,3, abaixo do limiar de 50 que indica contração) e a queda de maio sinalizam dificuldades para sustentar o crescimento. Economistas alertam que a desaceleração global e potenciais tarifas impostas por parceiros comerciais, como as mencionadas por Donald Trump, podem agravar o cenário em 2025, afetando exportações e aumentando custos.
Desafios e Expectativas para 2025
A XP projeta um crescimento industrial de 2,2% para 2025, mas a sequência de quedas e a perda de dinamismo nos últimos meses sugerem um cenário de cautela. A alta da inflação de alimentos, que compromete o orçamento das famílias, e a menor disponibilidade de crédito para bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, limitam o consumo interno, um dos motores do crescimento de 2024 (3,1%). Além disso, paralisações no Rio Grande do Sul, devido a chuvas, impactaram setores como o automotivo e de alimentos, com efeitos em cadeias nacionais.
A gestão petista, embora tenha celebrado o crescimento de 2024, impulsionado por estímulos fiscais e aumento da renda, enfrenta críticas por não endereçar estruturalmente os desafios do setor. A ausência de medidas robustas para conter a inflação e reduzir juros, aliada à dependência de poucos setores para o crescimento, como veículos e máquinas, expõe a fragilidade da recuperação. O governo Lula, focado em agendas internacionais como o BRICS, é cobrado por maior atenção à política industrial, especialmente em um contexto de desaceleração global e pressões fiscais internas.
A indústria brasileira, apesar do desempenho positivo acumulado, enfrenta um momento crítico. A continuidade das quedas em 2025 pode comprometer os ganhos recentes, exigindo ações coordenadas para restaurar a confiança e estimular investimentos. A próxima divulgação da PIM, referente a junho de 2025, será crucial para avaliar se a desaceleração persiste ou se o setor conseguirá reverter a tendência negativa.