
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está “profundamente frustrado” com as negociações comerciais com o Brasil, afirmou Kevin Hassett, diretor do Conselho Nacional Econômico da Casa Branca, em uma entrevista à ABC News no domingo (13 de julho de 2025). A declaração, amplificada em posts no X, ocorre em meio a uma escalada de tensões bilaterais, com Trump ameaçando impor tarifas de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto, citando a condução do processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e supostas práticas comerciais desleais. A posição de Trump, que também criticou o Brasil por “ataques à liberdade de expressão” e pela regulação de plataformas digitais, intensifica o risco de uma guerra comercial, enquanto o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promete retaliar com medidas recíprocas, apoiado pela Lei de Reciprocidade Econômica brasileira.
Frustração de Trump e as Tarifas de 50%
Hassett, em entrevista exibida parcialmente no domingo, destacou que Trump considera as políticas comerciais do Brasil uma “ameaça à segurança nacional” dos EUA, especialmente pela resistência do governo brasileiro em ceder nas negociações iniciadas em abril, quando Trump anunciou tarifas “recíprocas” de 10% sobre importações de diversos países. A tarifa proposta para o Brasil, que saltou para 50%, é a mais alta entre os 22 países alvos de cartas enviadas por Trump na última semana, incluindo Filipinas (20%), Sri Lanka (30%) e Moldávia (25%). Segundo Hassett, a escalada reflete a insatisfação de Trump com a falta de progresso em acordos comerciais e com a postura do Brasil no processo contra Bolsonaro, que ele chama de “caça às bruxas”.
Em uma carta enviada ao presidente Lula na quarta-feira (9 de julho), publicada no Truth Social, Trump vinculou a tarifa à condução do julgamento de Bolsonaro, acusado de tramar um golpe de Estado após sua derrota nas eleições de 2022. “O julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE”, escreveu Trump, alegando que o Brasil também ataca os “direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos” por meio de ordens de censura do Supremo Tribunal Federal (STF) a plataformas como o X, de propriedade de Elon Musk. Trump também mencionou, incorretamente, um “déficit comercial insustentável” com o Brasil, apesar de os EUA terem registrado um superávit de US$ 7,4 bilhões em bens em 2024, segundo o Escritório do Representante Comercial dos EUA.
Resposta Brasileira e Impactos Econômicos
O presidente Lula reagiu com firmeza, afirmando que “o Brasil é uma nação soberana com instituições independentes que não aceitará tutela de ninguém”. Em entrevista à TV Globo na quinta-feira (10 de julho), Lula classificou as justificativas de Trump como “ultrajantes” e prometeu retaliar com base na Lei de Reciprocidade Econômica, que permite medidas proporcionais contra ações comerciais unilaterais. O Ministério da Fazenda brasileiro minimizou o impacto das tarifas, projetando um crescimento econômico de 2,5% em 2025, com setores como aviação (Embraer) e energia sendo os mais afetados. A pasta destacou que produtos como petróleo e minerais críticos, principais exportações do Brasil para os EUA, estão isentos, e que o país pode redirecionar exportações de café, carne e suco de laranja para mercados como China e União Europeia.
O Brasil exportou US$ 42,3 bilhões para os EUA em 2024, incluindo café, aço, petróleo e aviões, enquanto importou US$ 49,7 bilhões, como máquinas e produtos químicos. A imposição de tarifas de 50% pode elevar preços de bens brasileiros nos EUA, como café (30% das importações americanas vêm do Brasil), e impactar setores como a Embraer, que depende do mercado americano. O real desvalorizou mais de 2% frente ao dólar após o anúncio de Trump, refletindo a preocupação do mercado. Especialistas estimam perdas anuais de US$ 10 a 15 bilhões nas exportações brasileiras caso as tarifas sejam implementadas, embora a diversificação de parceiros comerciais, especialmente com a China, possa mitigar os danos.
Contexto Político e o Papel de Bolsonaro
A frustração de Trump também está ligada à sua relação pessoal com Bolsonaro, a quem chama de “líder respeitado mundialmente”. Durante seu primeiro mandato, Trump recebeu Bolsonaro em Mar-a-Lago em 2020, e ambos compartilham laços com o movimento MAGA e alegações de fraudes eleitorais. Trump compara o julgamento de Bolsonaro, que enfrenta acusações de conspiração para um golpe e pode ser condenado a até 43 anos de prisão, às suas próprias batalhas legais nos EUA. A carta de Trump também critica a regulação brasileira de plataformas digitais, citando ordens do STF para remoção de conteúdos que incitam violência ou desinformação, o que ele considera “censura ilícita”.
No Brasil, a ameaça de tarifas gerou protestos em São Paulo e outras cidades, com apoiadores de Lula condenando a interferência americana. Bolsonaro, por sua vez, propôs uma anistia aos envolvidos no 8 de janeiro para “acalmar os mercados”, mas reconheceu que as tarifas prejudicam a economia brasileira. A polarização política se intensificou, com aliados de Lula acusando Bolsonaro de alinhar-se a interesses estrangeiros, enquanto bolsonaristas, como o deputado Eduardo Bolsonaro, elogiaram Trump por “expor a perseguição” do STF. O cientista político Leonardo Paz Neves, da Fundação Getulio Vargas, alertou que a pressão de Trump pode unir brasileiros em defesa da soberania, mas também beneficiar Lula politicamente, ao posicioná-lo como defensor da independência nacional.
Implicações Diplomáticas e o BRICS
As tensões comerciais ocorrem durante a cúpula do BRICS no Rio, onde Lula defendeu a desdolarização e uma nova moeda para o bloco, irritando Trump, que ameaça tarifas de 100% contra membros do BRICS. A ausência de líderes como Xi Jinping e Vladimir Putin limitou o impacto da cúpula, mas a postura de Trump reforça sua oposição ao bloco, visto como um desafio à hegemonia americana. O Brasil, que celebrou 200 anos de relações diplomáticas com os EUA em 2024, enfrenta o desafio de manter laços econômicos sem ceder à pressão política. O vice-presidente Geraldo Alckmin sinalizou diálogo diplomático como o primeiro passo, mas Lula já convocou reuniões de emergência com ministros para preparar retaliações, incluindo tarifas sobre produtos americanos como eletrônicos e produtos químicos.
Analistas, como Eswar Prasad, da Universidade Cornell, observam que Trump usa tarifas como ferramenta para influenciar não apenas políticas comerciais, mas também assuntos domésticos de outros países, o que pode violar limites legais, como os da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA). A ameaça de Trump já enfrenta questionamentos legais nos EUA, com senadores democratas como Tim Kaine prometendo bloquear as tarifas. Enquanto isso, o Brasil busca intensificar laços com o Mercosul e outros parceiros do BRICS para reduzir a dependência dos EUA, em um movimento que pode acelerar a integração sul-americana.
A escalada das tensões, combinada com a crise das enchentes no Texas e a polarização no Brasil, sugere que a disputa comercial pode ter consequências econômicas e políticas duradouras. Lula, que enfrenta desafios internos como a queda na produção industrial, vê na resistência a Trump uma oportunidade para reforçar sua liderança, enquanto Bolsonaro usa o apoio americano para manter relevância. A resolução do impasse, seja por negociações ou retaliações, será crucial para o futuro das relações Brasil-EUA e para a estabilidade econômica global.
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