
A recente decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) que culminou na cassação do mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) não poderia ter ocorrido em um momento mais emblemático. A parlamentar, conhecida por sua retórica incisiva e por ser uma das vozes mais ativas na oposição ao governo petista, teve seu processo acelerado justamente após ter sido uma das principais articuladoras das manifestações pró-impeachment marcadas para o dia 16 de março em todo o país.
Zambelli, figura polêmica e de discurso inflamado, é uma das principais críticas do governo Lula e da esquerda brasileira. Sua atuação no Congresso tem sido marcada por embates diretos com representantes do PT e por uma postura que muitos classificam como “combativa” e “incendiária”. A deputada foi uma das primeiras a defender abertamente a necessidade de um impeachment do presidente Lula, alegando supostos abusos de poder e irregularidades administrativas. Sua liderança nas mobilizações que estão sendo organizadas para o próximo dia 16 de março a colocou no centro do debate político nacional.
O processo que resultou na cassação de Zambelli foi movido com base na acusação de abuso de poder econômico durante as eleições de 2022. O TRE-SP, por maioria de votos, entendeu que houve irregularidades em sua campanha, decisão que a própria deputada classificou como “política” e “arbitrária”. Em suas redes sociais, Zambelli não poupou críticas ao tribunal, afirmando que a cassação é uma tentativa de silenciar a oposição e intimidar aqueles que se levantam contra o governo atual. “Fica claro que a perseguição politica em nosso país, contra os conservadores, é visível como o sol do meio-dia”, escreveu ela em nota em suas redes sociais.
Nas redes sociais, a reação à cassação foi imediata e dividida. De um lado, apoiadores da deputada e simpatizantes da direita brasileira acusam o TRE de agir com parcialidade, sugerindo que a decisão foi motivada por interesses políticos. “É claro que querem calar Zambelli justamente agora, quando ela está liderando as manifestações contra o governo”, comentou um usuário no Facebook. Do outro, críticos da deputada comemoraram a decisão, afirmando que a cassação é um exemplo de que a justiça está sendo feita. “Finalmente um ato de responsabilidade. Zambelli representa tudo o que há de errado na política brasileira”, postou outro usuário no Instagram.
A aceleração do processo, no entanto, levanta questões sobre o timing da decisão. O fato de a cassação ter sido anunciada poucos dias antes das manifestações pró-impeachment, das quais Zambelli é uma das principais organizadoras, alimenta teorias de que há uma tentativa de desmobilizar os protestos. Para analistas políticos, a situação expõe a fragilidade das instituições democráticas, que parecem cada vez mais suscetíveis à influência de interesses partidários. “É inegável que a cassação de Zambelli tem um peso simbólico enorme, especialmente neste momento em que a oposição tenta se reorganizar”, afirmou um cientista político em entrevista a um portal de notícias.
Enquanto isso, as ruas se preparam para o dia 16 de março. As manifestações, que prometem levar milhares de pessoas às principais cidades do país, são vistas como um termômetro do descontentamento popular com o governo Lula. A ausência de Zambelli, no entanto, pode impactar a mobilização. A deputada, com seu estilo aguerrido e capacidade de mobilização, é uma peça-chave no movimento. Sua cassação, portanto, pode ser interpretada como um golpe estratégico para enfraquecer a oposição.
Resta saber se a decisão do TRE-SP será revertida pelo TSE ou se Zambelli conseguirá manter sua influência mesmo fora do Congresso. Uma coisa é certa: o cenário político brasileiro continua turbulento, e a cassação da deputada é mais um capítulo nessa história de polarização e confronto. Enquanto a esquerda comemora o que chama de “vitória da justiça”, a direita vê na decisão um sinal de que a democracia brasileira está sob ameaça. O dia 16 de março promete ser um divisor de águas.
Bruno Lobo Monteiro – Redator e colunista de O Tabuleiro Político